Introdução da Redação
Dialogando com o questionamento presente em “Reimaginando o futuro”, um dos mais recentes relatórios publicados pela Unesco, propomos uma reflexão sobre as práticas de ensino-aprendizagem vigentes e um desenho de futuros da educação à luz dos princípios apresentados no documento.
Nesta palestra, apresentada por nossa diretora de operações Fernanda Alves durante o congresso 17º Crescer do Grupo Rabbit e demais eventos presenciais no escritório do Google no Brasil, contamos ainda com a facilitação gráfica da designer gráfica Vivian Dall’Alba.
A facilitação gráfica é o processo de tradução visual do que está sendo falado para a construção de conhecimento de forma imagética. Assim um número maior de pessoas tem acesso ao conteúdo de forma inovadora e fácil de aprender e memorizar.
A partir de agora, conteúdo por Fernanda Alves da Inicie. Boa leitura!
Apresentação
Olá, boa tarde. Quero muito agradecer a presença de todos vocês que, entre tantas possibilidades de temas e de palestras interessantes e relevantes, escolheram compartilhar o tempo de vocês comigo.
Eu sou Fernanda Alves, sou diretora de operações na Inicie, um ecossistema de inovação que apoia as escolas em sua jornada de transformação. Mas, para já ir entrando no tema da nossa conversa de hoje, se eu tivesse que dizer, 20 anos atrás, quando eu entrei na faculdade, o que eu estaria fazendo hoje, dificilmente eu diria que trabalharia numa edtech, numa empresa de tecnologia educacional, o que já diz muito de quanto o mundo, e o mercado de trabalho, e as possibilidades de carreira mudaram nas últimas duas décadas.
Formada em Letras, com mestrado e doutorado em teoria literária, talvez as previsões mais óbvias fossem professora da educação básica (o que eu fiz), professora do ensino superior (o que eu também fiz), revisora e editora de livros didáticos (o que eu também fiz). Mas a carreira que eu acabei desenhando me coloca aqui hoje liderando um time de pessoas que pensa na interface entre tecnologia e educação, no letramento digital, na formação contínua, no aprendizado para a vida toda, entre tantas outras coisas. E essa falta de correspondência clara e imediata entre a faculdade e a profissão ou as atividades profissionais vai ser cada vez mais frequente a partir de agora, não é mesmo?
Vocês já estão cansados de ouvir que estamos formando estudantes que vão exercer profissões que nem existem ainda. Mas isso também era verdade um tempinho atrás, com a diferença de que agora as mudanças são muito mais rápidas e aceleradas pela tecnologia. E se eu me formo hoje e o mercado de trabalho está em constante mudança, o que é que a escola tem a me ensinar? É dessa educação para o futuro que eu gostaria de falar com vocês hoje.
Dinâmica
E por falar de futuro, vamos fazer um exercício aqui. Respondam pra mim esta pergunta: como vocês imaginam que será a educação daqui a 30 anos? Em 2050? Podem escolher algumas palavras ou ideias-chave ou fazer uma frase.
O futuro da educação imaginado há algumas décadas
Nesse exercício de olhar para o passado e de pensar o futuro, enquanto estava pensando o que era relevante compartilhar com vocês, eu fiquei pensando que imagens poderiam representar o futuro da educação algumas décadas atrás. Na pesquisa, achei um site muito interessante, que faz um compilado de “profecias” sobre o futuro da sala de aula. Tudo está disponível num site chamado Flashbak, todo crédito da curadoria para eles.
A primeira imagem vocês certamente reconhecem, de um desenho que marcou a infância de muitos de nós, os Jetsons. Uma professora-robô, alunos com smartwatches, relatórios de desempenho dos alunos em uma gravação enviada aos pais. Quais dessas profecias se realizaram?
A imagem de baixo é de um futurista americano, Arthur Radebaugh, um quadrinho publicado em 1958, que previa a necessidade do ensino remoto para solucionar a superlotação e a falta de professores. Ensino com vídeos, alunos registrando presença ao apertar um botão. Um equipamento por aluno.
A seguinte imagem, produzida no Japão, algumas décadas depois, também mostra uma sala de aula cheia de máquinas, com um destaque importante: as crianças recebem castigos físicos dos robôs quando erram o resultado de uma operação matemática. O que acharam?
A imagem seguinte, de 1973, trata da importância que a TV poderia vir a desempenhar para a educação, ajudando sobretudo os alunos lentos. Esta é da E Enciclopédia Infantil de 1971 e retrata a mágica “Máquina de Respostas”. Você faz qualquer pergunta, como “Quem inventou o fonógrafo?” e levará você a um aprendizado cada vez mais profundo, fornecendo uma variedade de mídias com impressões, vídeos e faixas de áudio. Qualquer semelhança com o Google é mera coincidência!
Quero também mostrar para vocês um trechinho deste curta-metragem de 1967, chamado 1999 AD, e patrocinado por empresas como a Philco. O filme já profetizava o ensino autônomo. Mostra um menino de 8 anos, que vai à escola formal apenas duas vezes por semana. Os outros dias ele passa em casa, onde assiste às aulas, acessa um computador, com lições audiovisuais. Aparecem perguntas, ele aperta um botão e responde, a máquina mostra o resultado e sugere o que ele precisa revisar.
Foi uma boa retrospectiva de como imaginávamos o futuro, não?
O presente pós-pandemia
Muito do que vimos nas imagens e no filme, tecnologia, ensino remoto, lições audiovisuais não fazia parte do presente da maioria das instituições que conhecíamos até 2020, mas invadiram nossa realidade e de repente estávamos fazendo ensino remoto de emergência, todos os professores estavam produzindo videoaulas, estávamos buscando novos ambientes virtuais de aprendizagem, novas ferramentas de videoconferência, de avaliação online, de verificação e feedback. Enfim, tivemos que mergulhar nestes recursos tecnológicos.
E estes dois anos de pandemia nos trouxeram novos desafios, além daqueles que já tínhamos. Hoje todas as escolas que conheço estão lidando, em menor ou maior medida, com estes problemas: nossa vulnerabilidade, o quanto nossa vida é frágil, a incerteza em relação ao futuro do trabalho, as mudanças climáticas, as catástrofes cada vez mais frequentes, o perigo de novas pandemias (olha a varíola do macaco, quarta dose da covid e por aí vai), os problemas socioemocionais derivados da pandemia (li esta semana em uma matéria da BBC que 7 entre 10 alunos têm sintomas de ansiedade ou depressão).
Além de tudo isso, a escola precisa lidar com a questão da recomposição da aprendizagem, com as lacunas e dificuldades que ficaram, com questões imediatas de futuro como o vestibular, com a inadimplência, com a fidelização dos alunos, com o processo de rematrícula. Enfim, são muitas as preocupações.
Desenhar futuros
Então, se voltarmos à pergunta que eu fiz pra vocês, sobre como será a educação em 2050, precisamos pensar em todos estes problemas e desafios do presente, em como solucioná-los, em como encontrar saídas para eles.
Por isso, acho importante destacar essa mudança de mentalidade que precisa ocorrer. A gente costuma dizer que as crianças e os jovens são o futuro ou a esperança do futuro. Já ouvi muito também essa frase: o que você espera do futuro? Agora precisamos de uma postura mais ativa: nós adultos também precisamos contribuir para este futuro, precisamos pensar em como construir ou desenhar este futuro.
E esta é a razão pela qual escolhi falar deste tema nesta palestra. Vocês viram na minha apresentação que aparece o conceito de letramento, essas habilidades que a gente precisa desenvolver para se inserir nas práticas de leitura e escrita e que são uma responsabilidade fundamental da escola. E vocês já devem ter visto que letramento foi, nos últimos tempos, ganhando uma série de adjetivos:
- letramento digital: habilidades digitais para participar de um mundo conectado
- letramento científico: habilidades para ler e compreender o método científico
- letramento midiático: habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica e lidar com tudo o que nos chega em diferentes mídias.
E já desde 2020 começou a me chamar a atenção esse (não tão) novo tipo de letramento: o letramento de futuro. Vocês sabem que existem futuristas, que essa é uma área de desenvolvimento, de carreira. Mas faz uns dois anos eu vi que a Unesco já vem trabalhando com este tema para a educação há pelo menos uma década.
E o que seria o letramento de futuro (em alguns lugares vamos achar alfabetização de futuro): seria desenvolver habilidades para lidar com as incertezas, com as mudanças. Devemos ser capazes de imaginar um futuro próspero. Só essa imaginação vai garantir um caminho de prosperidade, sem guerra. O que a Unesco diz? Que as velhas formas de ‘usar-o-futuro’ não são mais adequadas.
Se pensarmos nas imagens que vimos, já dando um spoiler do que ainda está por vir na minha fala, aquela maneira de visualizar o futuro (toda a salvação nas máquinas e na tecnologia) já não é mais suficiente, precisamos de uma nova forma de operar, de novos instrumentos de análise.
Então é por isso que precisamos imaginar, reimaginar.
E precisamos desenhar os futuros que queremos.
Dois pontos de atenção aqui: a importância das capacidades humanas, como a imaginação, o uso do verbo desenhar, imitar ou criar por meios não gráficos algo passível de ser percebido pelo espírito, pela vista; dar a ideia de, figurar. O outro é que falamos de futuros, no plural. Porque essa capacidade de imaginar vai nos levar não a um único futuro possível, mas a vários, plurais, advindos de diferentes perspectivas.
Reimaginar nossos futuros juntos: o documento da Unesco
Bom, toda essa introdução para chegarmos ao documento que me inspirou todo esse raciocínio, toda essa pesquisa.
Esse é um documento da Unesco, publicado este ano, já disponível em português, feito por uma comissão global, com participação de um brasileiro (o Cristovam Buarque), do português Antonio Novoa.
E na verdade este é um documento que sucede a outros, que foram bem importantes para os contornos que a educação tem hoje. Por exemplo, o último relatório, de 1996, falava dos 4 pilares da educação, que se tornaram motivo de estudo e discussão em todo o mundo: aprender a conhecer, aprender a fazer, a aprender a conviver, aprender a ser.
E pensando que as próximas três décadas vão ser decisivas para tudo o que vai ocorrer no mundo (e esse não é um futuro longe: é o futuro que as crianças que estamos formando na educação infantil vão viver), este documento propõe a necessidade de transformar a educação, a importância da educação para superar os desafios climáticos, econômicos, de saúde.
O documento fala de um novo contrato social, do compromisso do estado, das escolas públicas, privadas com essa nova visão.
E é dos pilares deste documento que eu gostaria de falar daqui em diante com vocês.
Desaprender, aprender, reaprender
Se voltarmos ao título longuíssimo da palestra (me desculpem por isso), temos ali já três ideias importantes: precisamos aprender para a vida toda, às vezes precisamos desaprender para depois reaprender. E isso está nas atividades básicas do cotidiano. Ontem tive reunião na escola da minha filha, que está na educação infantil, e achei muito interessante o que a professora fez: ela mostrou um vídeo com toda uma atividade de exploração que aconteceu com a turma (e começou no parque, o que já é um bom ponto para o que vamos falar depois sobre espaços): uma criança encontra um inseto, todos ficam na dúvida e é um louva-deus, se é um grilo, se é um gafanhoto e aí começa uma série de perguntas que a professora faz para as crianças, o inseto passa de mão em mão. Enfim, 12 minutos de uma atividade exploratória, de instigar a curiosidade das crianças. E a professora nos perguntou ao final: foi assim que vocês aprenderam?
Estamos aqui falando de uma nova mentalidade, de mudança, aberta, flexível, que nos dispõe a desaprender, que nos prepara para reaprender.
Os pilares do documento
Este documento da Unesco traz algumas propostas para transformar a educação e enfatiza cinco pilares:
- a necessidade de fomentar pedagogias de cooperação e solidariedade
- a importância de uma aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar
- o protagonismo de um professor transformador, reflexivo, que trabalha em rede, em colaboração
- a necessidade de proteger e preservar as escolas, como espaços privilegiados de transformação
- a necessidade de repensar os tempos e os espaços da educação
Pedagogias de cooperação e solidariedade
Neste pilar, alguns conceitos são muito importantes: é preciso partir de situações problema (vamos lembrar o exemplo do grilo, louva-deus no parque), que garantam significado ao que se está aprendendo, que promovam a interdisciplinaridade, que permitam o trabalho em projetos. E vocês podem me dizer: é muito mais fácil fazer isso na educação infantil, fase em que as crianças são muito curiosas, com uma professora polivalente, sem avaliações formais rígidas. Nosso desafio: como aprender com a educação infantil e transpor essa experiência para outros segmentos?
Aqui aparecem algumas ideias que não são novas, mas que são reforçadas pelo documento: três delas fundamentais para a escola que está repensando metodologias e abordagens: é fundamental trabalhar entre disciplinas e uma aprendizagem baseada em problemas e projetos pode ser muito enriquecedora para a experiência dos alunos.
Além disso, se fala muito da importância romper barreiras e preconceitos e promover uma educação inclusiva. E aqui sabemos o desafio que é para a escola promover um aprendizado contínuo que garanta que os profissionais da educação estão aptos para acolher crianças de diferentes etnias, de diferentes realidades familiares, crianças típicas e crianças neuroatípicas.
Este é o momento de desaprender vieses, de se abrir para as contribuições mais atuais da neurociência, das ciências da educação para pensar novas formas de ensinar. E se estamos falando de uma nova abordagem de ensino-aprendizagem, construída com base em problemas ou projetos, a avaliação vai precisar ser coerente, vai precisar refletir a jornada de aprendizagem criada, por isso se fala de um conceito já antigo, o de avaliação significativa.
Trata-se de repensar o planejamento (o que queremos que as crianças aprendam, que habilidades elas devem desenvolver? para quem estamos planejando? para um público diverso de alunos, com experiências e condições de vida diferentes; como estamos planejando, que experiência de aprendizagem estamos criando – e daí a ideia do professor como um designer de experiências de aprendizagem -; como estamos avaliando).
Aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar
Aqui estamos pensando em um novo currículo e para isso é preciso repensar os valores da educação, as competências que queremos desenvolver, a relação do ser humano com o meio ambiente e diferentes formas de expressão.
Novamente aqui o objetivo de que as crianças sejam capacitadas para resolver problemas, que possam usar sua criatividade e desenhar soluções inovadoras. Algo de muito destaque no documento, e que está em consonância com o atual momento – pós-pandemia, mudanças climáticas – é a necessidade de nos reconectarmos com o meio ambiente, de nos sentirmos parte dele. E aqui uma pequena anedota ainda sobre a reunião de pais: as crianças estão trabalhando sobre os animais, uma delas, colega da minha filha, pergunta o que está escrito numa placa (não sei se de um shopping, restaurante). A mãe diz que está proibida a entrada de animais. E a criança questiona: mas se nós somos animais, por que nós podemos entrar? De alguma forma, eu achei que o raciocínio dessa criança consegue materializar o que o documento diz sobre desaprender a arrogância humana: fazemos parte deste planeta. Então aqui todo um destaque à educação socioambiental, ao trabalho com a sustentabilidade, com os ODS (2030 está batendo na nossa porta).
Ainda pensando nos princípios para um novo currículo, se fala dos letramentos necessários:
- dos multiletramentos, pensando que as crianças precisam aprender a ler e escrever em diferentes mídias, a interpretar e produzir textos multimodais;
- do multilinguismo, as crianças precisam aprender outras línguas e com isso ter contato e aprender a respeitar e valorizar as diferentes culturas, numa proposta intercultural;
- do letramento digital, fundamental para a participação plena num mundo altamente conectado;
- do letramento científico, para lidar com o método científico, com a necessidade de checar informações, de ter fontes sólidas, de levantar hipóteses, testá-las;
- de incorporar a aprendizagem socioemocional, principalmente agora, quando acabamos de viver uma crise de saúde global que fragilizou nossas relações e vínculos.
Professor transformador
Um dos pilares é o papel do professor, que o documento reafirma como central no processo de transformação educacional. E uma das palavras que mais aparece é a colaboração, daí a ideia do ensino como uma profissão colaborativa, possível por grupos de trabalho, por atividades de mentoria. Merece destaque também a formação continuada de professores, a necessidade de promover um processo de aprendizagem constante. E também a urgência de incorporar o letramento digital nessa formação: ser professor hoje é ser professor em uma cultura atravessada pelo digital e isso não pode estar fora da sala de aula apenas.
Escolas protegidas e transformadas
Espaços para colaborar, inovar, aprender.
Também se reforça a importância de preservar, de proteger as escolas, mas também de transformá-las, de redesenhar seus tempos e espaços: o que significa repensar o próprio espaço da sala de aula, de em certa medida questionar o abandono das fileiras de mesas, de redesenhar a dinâmica da aula, principalmente se estivermos pensando na aprendizagem baseada em problemas ou projetos. Por isso a referência ao paradigma da biblioteca, do espaço de pesquisa, de circulação do conhecimento, mais do que da sala de aula que conhecemos.
Esse é um espaço também que respeita a diversidade e por isso deve ser seguro, deve ser livre de violência e bullying. Essa é uma escola que dialoga com os objetivos de desenvolvimento sustentável, que se abre para a necessidade de garantir a sobrevivência do planeta, e que pode se propor a ser uma escola verde.
Pensando aqui também nos pontos de intersecção da minha área de atuação com as propostas do documento, preciso chamar a atenção para o papel da tecnologia: o digital precisa ser objeto de estudo e não apenas meio para alcançar os objetivos de aprendizagem; isso significa garantir a conectividade, acesso a dispositivos, desenvolver habilidades digitais, mas também incorporar no currículo o conhecimento, por exemplo, de linguagem de programação, uma visão crítica em relação às bênçãos e aos fardos (para recuperar uma ideia de Martha Gabriel) que a tecnologia acarreta: o poder dos algoritmos, os vieses das redes sociais, os perigos e os benefícios dessas mesmas redes.
Tudo isso precisa ser discutido, questionado, estudado na escola.
Educação em diferentes tempos e espaços
Aprender com o planeta vivo é uma das imagens que ficou para mim na leitura do documento. A educação acontece privilegiadamente na escola, mas a escola pode ser abrir para experiências de aprendizagem em outros espaços. Aqui os seres humanos precisam aprender a se ver como seres sociais e ecológicos e a escola poderia fazer essa conexão entre ambientes naturais, construídos e virtuais.
Como ela faz a ponte entre a natureza lá fora, a floresta, as grandes edificações humanas e o metaverso? Esse é um dos nossos desafios.
Como a escola promove o acesso aos bens culturais, à arte, à música de diferentes tipos de expressão? Como também, em tempos digitais, protege a privacidade, a proteção dos dados?
Em resumo
Resumindo, se resgatarmos as imagens do início da palestra, em que as previsões para o futuro passavam diretamente pela tecnologia, pelas máquinas e robôs, com este documento, os futuros passam, primeiro, pelas pessoas, pela conexão entre elas, pela colaboração. É essa colaboração que vai garantir um uso interessante da tecnologia para garantir futuros possíveis e desejáveis.
É isso que vai nos levar para um caminho de inovação, de transformação.
Em termos práticos, rotas possíveis
Para finalizar, o que pensamos aqui em termos práticos, são as rotas possíveis, o que podemos começar a fazer hoje para desenhar as possibilidades do amanhã.
Visão e cultura – gestão
Em termos de gestão, pensando em visão e cultura, um dos fatores fundamentais é se abrir para e cultivar uma mentalidade de mudança e fomentar o letramento de futuro. Ou seja, sua equipe precisa saber o que é letramento de futuro e precisa desenvolver habilidades para lidar com as incertezas, com o imprevisto.
Outro ponto crucial é pensar a escola como uma organização que ensina, mas, ou até sobretudo, que aprende. Aqui um projeto de aprendizagem corporativa (para se basear em algumas ideias que circulam fora do mundo da educação) pode ser muito interessante: como fazer o embarque de novos professores e colaboradores, como trabalhar os valores da instituição, como estabelecer um processo de formação contínua, como estimular a aprendizagem em situações formais e informais?
Além disso, já na contratação, a instituição deve ter muito claras quais são as competências e habilidades necessárias no corpo docente, por exemplo. Isso vai permitir desenhar um processo de formação, mas também de avaliação de desempenho.
Incorporação da tecnologia não acaba com o fim da pandemia. É preciso continuar pensando no letramento digital de toda a equipe. É preciso ainda pensar em ferramentas digitais que contribuam para o desenho das experiências de aprendizagem.
Pessoas e aprendizagem
Pensando nos processos de aprendizagem das pessoas, de professores a alunos, é preciso incorporar novas (não tão novas assim) abordagens. O documento se centra na aprendizagem baseada em projetos e problemas como eixo de uma pedagogia da colaboração.
É preciso fomentar uma educação inclusiva e intercultural. E redesenhar o currículo para acolher:
- os multiletramentos (novas práticas sociais de cultura e escrita, novas mídias, novas linguagens, novos suportes – sua escola propõe a produção multimídia para os alunos? programação? Está falando de remix, de vídeos do Tik Tok e do Youtube? de memes e de conteúdos que viralizam na internet?);
- o multilinguismo (sua escola oferece outros idiomas além do inglês? está preparando o aluno para conviver com outras culturas?);
a educação financeira (estamos pensando no numeramento para além da matemática? em preparar estudantes para lidar com finanças, com consumo, para controlar impulsos consumistas?); - o letramento científico para valorizar os processos de produção do conhecimento científico;
o letramento digital (sua equipe tem uma pessoa para pensar a tecnologia educacional? Quando você faz o planejamento da formação da equipe considera como as tecnologias vão contribuir? Você tem uma política de uso de dispositivo?); - a aprendizagem socioemocional (as competências socioemocionais permeiam o currículo? A escola está ajudando os alunos a lidar com suas emoções? A escola está atenta a problemas como depressão e ansiedade? Como isso está aparecendo na rotina dos professores?