Uma luta diária e de todos contra bullying e cyberbullying nas escolas
Você sabia que cerca de 23% dos brasileiros declararam já ter sofrido bullying em algum momento da vida? É o que dizem dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando olhamos diretamente para a categoria estudantil, observamos uma porcentagem ainda maior: 40% dos estudantes adolescentes declaram já ter sofrido com a prática de provocação e intimidação nas escolas, os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE).
Mas, afinal, o que é o bullying?
Imagine um lugar onde todos deveriam se sentir seguros, acolhidos e respeitados – a escola. No entanto, para muitas crianças e adolescentes ao redor do mundo, esse ambiente de aprendizado se transforma em um cenário de dor e angústia devido ao bullying.
No Brasil, a Lei n° 13.185/2015 instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) e definiu a prática como “todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas”.
A palavra bullying é um termo em inglês que se popularizou no contexto brasileiro; também conhecido como intimidação sistemática, o bullying é um dos principais problemas de violência na escola e uma barreira gigantesca no caminho da transformação educacional. Trata-se de um problema sério, principalmente no contexto escolar, onde a convivência entre os jovens é mais intensa. Os ataques físicos, verbais e as atitudes pejorativas visam prejudicar a imagem e a autoestima das vítimas, deixando marcas que muitas vezes perduram por toda a vida e refletem negativamente na saúde mental dos estudantes: depressão, ansiedade, fobia e isolamento social são apenas algumas das consequências devastadoras que as vítimas de violência nas escolas podem enfrentar em seu dia a dia. A violência escolar ainda afeta o desempenho acadêmico, a expectativa de aprendizagem e pode levar à evasão escolar.
Um desdobramento da violência nas escolas que vem preocupando educadores e estudiosos é o cyberbullying, um tipo de intimidação sistemática que, na maioria das vezes, começa na escola, mas atravessa os seus portões e concentra-se em ataques no meio digital, em especial no ambiente das redes sociais.
A Lei n° 14.811 foi sancionada neste ano e inclui os crimes de bullying e cyberbullying no Código Penal Brasileiro e aborda medidas de prevenção e combate à violência contra crianças e adolescentes em instituições escolares, trazendo diretrizes e deveres para as escolas sobre as temáticas, um avanço na garantia da proteção de crianças e adolescentes.
Mesmo com os avanços da lei, os espaços de luta contra a intimidação sistemática ainda estão sendo construídos:
“Ainda está todo mundo aprendendo a lidar com esse tipo de violência e não construímos protocolos adequados à nossa realidade. É preciso que sejam flexíveis, adaptáveis à situação, ao contexto e às dificuldades da escola”, é o que afirma Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, em entrevista para o Itaú Social.
Para muitos estudiosos, o bullying parece ser uma forma encontrada pelos jovens para lidar com seus conflitos internos, reproduzindo nas escolas a violência que enfrentam em casa ou nas ruas. Por isso, é preciso entender a problemática da prática não apenas pela ótica da vítima, mas também pela ótica do agressor e compreender que a violência é tóxica para os dois.
Então, como podemos combater o bullying?
A resposta está na promoção de uma cultura de paz nas escolas. Isso envolve não apenas punir os agressores, mas também entender as causas por trás de seu comportamento e oferecer apoio e orientação para que eles possam mudar suas atitudes. Campanhas de conscientização, práticas solidárias e atividades colaborativas são algumas das maneiras de promover o respeito, a empatia e a tolerância entre os alunos.
Outro ponto importante é trabalhar com sistemas de prevenção constantes e que façam parte da estrutura das escolas, não atuando somente quando há ocorrências de bullying ou cyberbullying, mas sim direcionar para uma atuação sempre em alerta para impedir que o ciclo de violência se inicie.
Por isso acreditamos que esse trabalho deve começar desde cedo, atravessando o currículo dos estudantes com temáticas associadas ao letramento digital e emocional das crianças e adolescentes. Aqui na Inicie desenvolvemos a Trilha Aluno Tutor Mirim, que orienta os alunos sobre segurança online, utilização de ferramentas digitais, apoio aos colegas e desenvolvimento de habilidades sociais, e abordao cyberbullying, a cidadania digital, a segurança digital, entre outros aspectos, como forma de guiar, já no começo de suas trajetórias estudantis, o uso das tecnologias de forma responsável e segura.
Neste Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, é necessário reforçar o papel da educação e entender a necessidade da flexibilidade e adaptabilidade em relação ao problema, assim como defende Telma Vinha, e de estabelecer um espaço de acolhimento às dificuldades das escolas.