Sensibilizar os alunos para questões que geram impacto local e global é uma das funções sociais da escola; abordagens interativas estimulam o aprendizado e comportamentos sustentáveis
Ao se falar em ‘sustentabilidade’, automaticamente surgem algumas palavras que estão diretamente relacionadas à temática, como reciclagem, consumo consciente e cuidado com o meio ambiente. Trabalhar esses pilares em sala de aula é indispensável, porém, é necessário transpor a reflexão e levar os alunos a avançarem para camadas mais profundas do tema a partir de uma abordagem diferenciada.
De acordo com o líder de Inovação da Inicie, Kadu Braga, o melhor caminho é promover um espaço de conhecimento que saia do óbvio e vislumbre possibilidades aplicáveis na vida cotidiana. Mas, como desenvolver a temática de maneira interessante e eficaz? Apresentar os problemas da escola para os alunos é uma opção e um passo pedagógico muito importante, pois uma questão real trabalhada em sala de aula agrega valor e gera engajamento.
A partir de situações cotidianas é possível incentivar os estudantes a observarem a realidade escolar e a apresentarem soluções práticas para o consumo elevado de água e de energia, para o uso excessivo de papel, para o armazenamento e descarte de rejeitos, entre tantas outras possibilidades.
“Primeiramente, preciso definir em quais estruturas que envolvem o conceito de sustentabilidade queremos atuar e entender os graus de aplicação do tema. Podemos pensar na estrutura socioemocional, por exemplo, que está ligada à saúde mental e às relações; e na estrutura física, que abarca sustentabilidade econômica e ambiental”, pontua Braga.
Trabalhar a sustentabilidade em um cenário hipotético é positivo, especialmente para os alunos que ainda não têm a maturidade necessária para a compreensão de todos os fatores que envolvem a situação – até o Ensino Fundamental Anos Iniciais -, para os mais velhos, no entanto, é necessário propor uma abordagem que resulte no dia a dia.
“Todo estudante sabe que a escola interfere nele, mas quando consegue perceber que ele também interfere na escola e que ela é diferente porque ele está – ou passou – por ali, há um sentimento de legado que o envolve e estimula”, comenta.
Do local para o global
Uma abordagem global do conceito de sustentabilidade contemplando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) é outro caminho necessário para a sala de aula. Conforme observa Braga, vincular as iniciativas desenvolvidas na escola com ações que impactam todo o mundo é importante para que, a partir disso, os estudantes possam pesquisar, atuar e aprender dentro dos intervalos pertencentes às intersecções e inter-relações entre o local e o global – fundamentados no conceito “glocal”, debatido e aprofundado pelo sociólogo espanhol Manuel Castells -.
Função social
Expandir o lastro da sustentabilidade para um debate importante para a sociedade atual é uma das grandes funções sociais da escola contemporânea. Para além de formar cidadãos e prepará-los para o mercado de trabalho, deve promover discussões acerca de questões específicas (como o aquecimento global) e incentivar os alunos a contemplarem os desafios do mundo em todos os contextos, desde sua complexidade global até suas implicações específicas, identificando-as em suas próprias comunidades escolares.
“A Educação transforma a sociedade e a sociedade também transforma a escola. Sendo assim, não trabalhar algumas questões é ficar fora do barco que já partiu, que é o barco do século XXI”, completa Kadu.